terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

De musas, garçons e botequins


Paraíso Perdido
(para a moça em frente)

Me diz quanto!
Quanto você quer,
quanto exigirá,
para me dar
esse umbigo que bóia
nesse liso mar
de pele.
.
Quanto
para minha língua explorar,
esse buraco com fundo,
essa marca recolhida,
negativo botão de rosa,
lugar do corte
que te fez formosa.
.
Quantas maçãs,
quantos mil-réis,
que carnes minhas,
deposito a teus pés?
Te pago as contas,
te apago as penas,
de meu Sansão,
te dou melenas,
de meu João,
minha cabeça.
.
Não cobro a costela,
não me faço dono,
meus direitos não retomo,
esqueço as outras elas.
.
Me diz!
Pago!
.
E te lamberia,
com língua ofídica,
tomando em mim,
de Eva,
o melhor presente.
E deixando de lado
Adão e o pecado,
encantar-me-ia
serpente.
Santos, 1998
__________
Miçangas, bugigangas,
restos, cacos, dejetos,
descobertos anis,
espelho partido em mis,
onde
só lhe dão, de você,
um porco você.
Pérolas indígenas,
caminhas por ti,
sem porto seguro.
Floripa, 1998
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De mim resta eu,
lá onde me perco,
prá lá donde de mim
desapareço,
buraco e negrume
onde,
em reviravoltas,
me a-guardo de mim mesmo,
com faca de muitos gumes.
Floripa, 1988
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Ivanhoé
Ferro, fogo, espada,
cravo despeito,
sangue perdido,
duelo canhestro.
Na liça o lixo
dos meus direitos
SS, 1998
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Bar Heinz!
Não te escuto
nesta balburdia em
balbucio,
onde nos fazemos
de surdos
para conversar com o
outro.
Convenhamos!
Santos, 1998
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Serviço
Garçon!
Na caipira,
de vodka,
pouco açicar,
e muito gelo.
O chopp,
sem colarinho.
Depois,
com afetada simpatia
e servil zelo,
favor me deixar
sozinho
SS, 1998
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Deux Magots não era aqui
(para Rámon)
O ar, intelectual,
com a face cínica
de-vida.
Livros, papel, jornal,
e uma caneta de pena.
Óculos na ponta do nariz,
ar casual
mas infelizmente superior,
como de lei.
A noite toda só!
Em tera de cegos,
e vesgos,
errei!
SS, 1998
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Não leva nada de meu,
leva você.
O resto é meu,
e teu, até os (n)ossos!
SS, 1999
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Deste tu idos
Hare Khristina, hare, hare!
Em mantra ou cantochão?
Ave, Christinae!
Do Hades retornado, te saúdo,
Sem Cérbero ou vergonha
(but totally ashamed!).
Posso? Para além do Devo?
Saberei desdizer não ditos?
Pois digo que fi-los
como ex-qui-lo
hibernauta de todos os nozes.
Calado e surdo,
tento, aqui, quem sabe,
um mudo!
.
Ridículo talvez,
torrar em vãs palavras
minhas cãs cansadas.
Pois, devido melhor saber,
por dúvidas no estar no ser,
por dívidas a mais não phoder.
.
Rebento, retento!
Mais uma vez, again,
alcançar sem ti
o que, em mim,
além de teu sonho,
é de ninguém
além
do Eu.
Insisto!
Sem compromisso,
por só mais querer,
em mil palavras
de mim saber
neste esquisito de insistência,
que sulcas por tua lavra,
e que, em mim, de mim,
poderei colher.
.
Retorno!
Pródigo ex-prodígio explodido,
senão humilde,
que isto jamais soube sê-lo,
também sem ares
de pré-tensa explicação
de justo ficar na razão.
Pois me restam ainda
ares de coragem em tons de sacanagens.
Pois, linda alemoa,
Wo Es War Soll Ich Werden,
numa boa!
.
E tendo dito, ditarei
além do ontem,
prá lá de mim.
Pois,
eu sei, mas mesmo assim....
SS, 1999

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