CONFIDÊNCIA
Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem os lábios
sopra-o com a suavidade
de uma confidência
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça
Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno
Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci
Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos
No húmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suamente
pronunciares o meu nome
Mia Couto
foto: Ralph Gibson Bastienne
4 comentários:
Passou dos 7000??? O mundo anda mesmo romântico. Gracias.
Bjs
leila
Gostei do "romântico". Acho qie é assim mesmo que venho me sentindo. O blog só me reflete e eu reflito nele.
Beijos na minha cunhada predileta
Zédu...o poema de Mia Couto é admirável pela paleta de sensações e de vagens que prporciona.
Os acordes do caderno vermelho são libertdaores e a imagem sugere bem a relação do confidencial com o
horizonte descortinável.
abraço
errata:
...pela paleta de sensações e viagens que proporciona...
:)
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