domingo, 20 de julho de 2008

Cara metade

Matisse
Eu vou dizer o que você é.

No mais irredutível básico,
naquilo que sobra de tanta elocubração,
depois de escarafunchar, afásico,
todos os lados da questão, 
eu sei o que você é
para este m´eu que foi te saber.
Em um mar, que de tão raso escasso,
faz  do pouco pérola brilhante,
você é uma oportunidade
que quero no meu seguir adiante.
Outras palavras, maiores e mais pomposas,
ficam aquém desta singularidade,
pedem mil linhas de prosa,
duvidam-se no nascedouro,
enroscam-se, na língua, verbosas,
e como Midas tranformam em ouro,
engessam, congelam em sal, 
o espaço das possibilidades,
o futuro do bem e do mal.

Por isso sempre te disse,
que à cena prefiro o encontro,
a construção, passo a passo,
às vezes com passos tontos,
outras, nervos de aço,
de uma nossa colagem, coisa tua
que fiz minha e nossa,
quebra-cabeça surpreendente,
 de sol, estrelas e luas,
sonhos, alegrias e fossas,
cartas, bilhetes e recados,
medos, artes e manhas,
e duas vozes de cada lado.
Painel de surpresas coladas,
de coisas inimaginadas
(neutras, bonitas ou feias,
cada qual um grão de areia),
com espaços já reservado,
para leituras do passado, 
que o futuro ainda vai trazer.
Desta cola e desta vontade,
deste tempestuoso bem querer,
com os anos das nossas verdades,
tecemos a nossa colcha,
vivemos nossa odisséia,
e nos deixamos ser trouxas,
Quixotes e Dulcinéias,
duas caras metades.

Barão, 20 de julho de 2008

2 comentários:

Anônimo disse...

Até que ter problemas com a internet tem seu lado bom...quando a gente volta encontra letras feitas palavras que apalavram um bem-querer lindo de bonito...

Que maravilha e que inveja saudável dos dois - estou morrendo de rir de mim mesma. É que nesta falta de virtude desejo que um dia, um moço assim de amor assim tão delicado, me diga ou faça algo que até bem menos elaborado e que se não for dado aos versos o faça em gesto que me leve a sentir como agora. E que ele, o do meu imaginário, nos seus dizeres ou fazeres, me alcance pela razão do coração deixando-o por um tempo calado, colado e quem sabe dulceinianamente ao lado.

Esta poesia eu quero ver também no livro que em Campinas deverá lançar. Ao lado das demais poesias, qual irá mais nos tocar?

Hoje o meu beijo vai para os dois e por conta dos versos que falam de encontros que acordam a esperança na vida a dois...

E se moço algum houver nesta vida, voltarei aqui para a alegria dos versos dela. Na alegria do outro sempre encontro um jeito de fazer a vida começar de novo.

Meire

weisenheimer disse...

caramba!
se essa não der resultado, duvido que qualquer outra o consiga, hehehe.
beijo doce,
claudia (sem acento)