sexta-feira, 11 de julho de 2008

Carne e unha

Caravaggio, Narciso
Por que em você eu cravo
esses dentes e unhas
que já nem sabia que tinha?
 
Por que de você o escravo,
essas garras que não supunha
e que só sangram as carnes minhas?
 
Por que o como sempre interdito,
o de novo que jamais será
e esse sonho de não poder sonhar?
 
Por que nesse querer insisto,
nessa cena que não se fará,
nesse caminho de não poder voltar?
 
Por que te afogo em dívidas
se serei sempre o endividado?
 
Porque te cubro de beijos
se não sou capaz do pecado?
 
Por que essa fogueira no inverno,
esse arrancar de roupas no frio,
se o desejo é meu inferno
e te deixo sempre no cio?
 
Por que não te escuto o grito,
os avisos em repetição
e, surdo, me faço aflito
e recuso o dizer não?
 
E por que esta tonta nudez,
esse despir publicado,
essa impossível mudez,
esse desvario denunciado?

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