terça-feira, 8 de julho de 2008

Humano, demasiadamente humano

foto: Sebastião Salgado
COMPANHEIROS

quero
escrever-me de homens
quero
calçar-me de terra
quero ser
a estrada marinha
que prossegue depois do último caminho

e quando ficar sem mim
não terei escrito
senão por vós
irmãos de um sonho
por vós
que não sereis derrotados

deixo
a paciência dos rios
a idade dos livros

mas não lego
mapa nem bússola
porque andei sempre
sobre meus pés
e doeu-me
às vezes
viver
hei-de inventar
um verso que vos faça justiça

por ora
basta-me o arco-íris

em que vos sonho
basta-te saber que morreis demasiado
por viverdes de menos
mas que permaneceis sem preço

companheiros

Mia Couto

Um comentário:

luis lourenço disse...

Olá Zédu!

Grande poema em que deslindo-sem beliscar a originalidade indiscutível de Mia Couto-os ecos primordiais do Humano, Demasiado Humano de Nietzsche...que admiro também.

Já percebi-corrige-me se estou engando-que cultivas a poesia genuina-com muita devoção...Isso é admirável.

Abraço poético