quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Meu presente aniversário


Pela primeira vez neste século
ninguém convidará meus amigos,
encherá balões coloridos,
escolherá o bolo do aniversariante.
Nem enfeitará as mesas
de um improvável Azeitona,
que se tranformava no seu ser radiante.
Ninguém fará a feijoada impossível,
de fogão inaugurado só para meu ser feliz.
Ninguém enfeitará o gramado,
com mesas de bem querer.
Ninguém convidará Francisquinho,
Eliza, Fernando,
e meu doce Miguel Arcanjo.
Ninguém me dará a risada da Anna,
a alegria do Jorge,
Marco Aurélio, pai de mesa e cama,
e a brisa de minha sacra família
e a vista a perder de vista.
Sem Christininha de Moraes,
sempre muito mais Gurjão,
Azeitona, Severo, Toninho,
Olavo que não há mais,
todos meninos do velho bar que morava em meu coração.
Ninguém me dará uma festa,
surpresa que eu sempre dizia besta.
Com ninguém teimarei nada querer,
não farei de conta um desejo de ficar só,
manha bobinha da criança que sempre quis dó.

Estarei só.
De todos vocês.
Estarei só
de quem, sempre, tudo isso fez.
Só!
Sem Gilza.
De vez.

Meu aniversário morreu.
Sobrei eu.
E os anos que insistem em passar,
até eu mandar parar.

3 comentários:

Anônimo disse...

Para: Zé
De: Inês
Ass.: O SEU PRESENTE (DE) ANIVERSÁRIO

Aniversário
[Álvaro de Campos]

No TEMPO em que festejavam
o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam
o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

Unknown disse...

Estou aqui morrendo de rir por reparar bem aquela sua do último escritor vivo do Bar do Frango, o que me leva a perguntar ou afirmar que, quiçá tb o primeiro. Só por isto meus parabéns tb aqui, tb agora na virada de 9 para 10 ...muito em tempo...

Beijo

Meire

Anônimo disse...

Soube de Gilza e o infortúnio de ter perdido um filho em igual circunstância me fez vagar pela internet e encontrar seu blog. Simples: Gilza que conheci na residencia médica em Ipanema e meu querido filho eram pessoa especiais. Dor.