Pequena Fábula i Moral
Como sempre, era uma vez. Desta, era um elefante. Daquele dos grandes, soberbo mas pachorrento, de uma platitude não toda bestial. Meio adormecido, pastava, o animal, lenta e ternamente.
Soltos pela savana, erravam os cientistas. Um para cada ciência. Curiosos porém cegos. E por serem todos cegos, desconhecedores da cegueira que os marcava. Procuravam, cada qual, histérica ou o-b-s-e-s-s-i-v-a-m-e-n-t-e, saber o elefante.
Se encontram, o elefante e os cientistas. E pastam. O elefante lentamente.
Qual histriônica hiena, cada cientista agarra uma parte do elefante. Se anuncia, sobe ao púlpito e, palpitando, descreve o bruto. Para tanto, alisa, apalpa, cutuca e sacode a parte que lhe toca da Coisa. Pensando ser só seu (,) o animal (,) descreve-o. E assim, vários elefantes são descritos. Árvores frondosas resultam de pernas, longos chicotes do rabo, enormes sucuris da tromba, do corpo himalaias e buracos negros. O Real, mudo, pasta.
Ao longe, cega e paralítica, a velha Filosofia sente cheiro da elefanticidade no ar, essências e vibrações. E por meter o nariz onde não é chamada, cheira o elefante-em-si. E por não ter elefante que lhe toque, dele fala melhor que muitos, de longe.
De repente, lá vem, sem ser convidada, a Psicanálise. Se anuncia, pega sua parte do mistério, sacode, alisa e balança o bruto. Do jeito como soem os cientistas, querendo agradar aos colegas que, ranzinzas, reclamam do cheiro do charuto.
Súbito, o elefante de todos começa a se mexer. Estremece, se sacode, se tensiona, converte e se relaxa, mil coisas. Alguns cientistas reclamam da Psicanálise, outros nem percebem que algo mudara depois dela, vários querem expulsá-la, uns poucos entendê-la, outros tantos, ainda incomodados pelo charuto, a chamam macumbeira. Até a Filosofia, distante, sente cheiro de mudanças no ar, aliás ao longe.
A própria Psicanálise se espanta. Não era esse o objeto de suas fantasias científicas. O dito cresce, mexe e remexe, sobe e desce, estremece e amolece, sem parar. A Psicanálise tenta começar sua descrição, que tem que vir em um discurso sem fim, visto não parar quieto seu elefante. Algumas vezes, perplexa, ela se pergunta: "Mas o que é o elefante?". Outras, supostamente sábia e decididamente vingativa, phala à científica turba que se agita: "O meu elefante contém mais elefante que o seu". Outras tantas, vestida no seu terninho brega-chique, entre um gole de cabernet e um naco de camembert, com ares de seminarista sádico, e agarrando-se avidamente à bengala francesa, afirma em língua romana para os corsários e seus aboletados papagaios tropicais: "El infante não existe; de uma metaforonímia é, sempre, assim, portanto do que, sendo o que não é, se trata. Voilá". No mais das vezes, sei lá, mil coisas.
O Real, goza. E sonha, aliás.
De longe, uma latinha de extrato de tomate a tudo olha. Contidamente, como fazem as latinhas que olham o olho que as olha e como convém a qualquer a na lista. E vê pernas, trombas, rabos, enorme corpanzil e uma pica, elefantemente imensa, onde se pendura, extaticamente convertida, uma histérica fumando um charuto. (1)
A pica do elefante. A parte que nos coube deste lato fundo. Só. Ou pelo menos até que o pau-que-dorme não acorde e se lembre, saudoso e desejante, de uma certa carona para uma certa formiguinha...
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Moral (aberta) da história
Se a marca é pica, bons produtos indica?
Pela adaptação: Zédu
1. Dizem que, metida a Moisés, agarrada ao que pensa obra sua, a Psicanálise , a la mestre florentino, em doce vingança, demanda: Fala!. Ao que a coisa, falasse o Real, responderia: Phala é a mãe! Eu (sou o) Phalo!. Dizem, mas há controvérsias.
Um comentário:
Ahhhh Zedu...hilário. Sem maiores comentários digo: genial com o bom produto que im p(l)ica indica.
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