quarta-feira, 18 de abril de 2007

Eumateia


O que, dela, não perdôo nela,
É ter deixado, em mim, essa idéia
De que para além da vida, há uma janela.
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O que nela, dela, ainda não perdôo
É ter mostrado que para minha aldeia
Há um caminho árduo ou um simple vôo.
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O que não consigo acomodar em mim,
No que dela inda trago nas veias,
É a certeza impune de um meu triste fim.
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E temo varandas, sacadas e todas as janelas,
E me sinto aflito a me debater na teia
Onde me espreita a aranha que ainda é dela.
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Mas na teia apreendo, teço e terço,
O que de mim é tudo e dela é meia,
E da prisão infame me livro em versos.
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Da cruz me dispo, braços me acolhem
Minhas Marias e um José de Arimatéia.
E pela janela, aberta, dos insetos, me faço pólen.
Bar do Frango, 18 de abril de 2007

Um comentário:

Unknown disse...

prefeir comentar como se lesse de tras para diante. No verso final você reconcilia com as possibilidades falando em fazer-se pólen. Seria assim uma espécie de fina poeira esvoaçante a flor-ir-ficar por fecunda-ação óvulos de vida em pura sexualidade humana? Pois não seria o caso de perdoar nela o que foi dela e que talvez jamais ( penso eu ) o quisesse condenà-lo a um triste fim? Vai, Zédu! Ser gauche na vida..." ... Não tema varandas, sacadas e quaisquer janelas, que são para se olhar delas o que talvez para ela estaria por vir. Se uma aranha teceu a teia dela não é a mesma que tece a sua para que se solte dela...