quarta-feira, 4 de março de 2009

A persistência da memória

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Web Tide
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Navego em ondas sem fim
por mares ainda mais imensos,
sem porto que me caia à vista
em um triste navegar.
Pois não têm de ter fim as ondas?
Não há que se desmanchar em´spumas?
Fazer rir crianças quando, aquietadas,
lambem areias?
Não é das ondas arrepiar os corpos
no encontro frio com as águas que nelas ondulam?
Serem mansas, bravias, e sempre outras?
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Onde as conchas que minhas ondas não desvelam?
Onde o barulho, se nunca se quebram?
A fúria, se não desmontam ruidosas?
O sabor, se não lambem areias?
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Que ondas são essas, essas ondas minhas?
Que mar é esse que me navega?
Onde as crianças, as mães aflitas e os grãos de areia?
Onde meu povo, meu litoral?
As oferendas, onde estão?
As flores, as palmas as velas e os organdis?
Onde minha arrebentação?
Onde os nomes, as juras e as pegadas
Que em lambê-las, apagaria em traços?
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No entanto são essas essas ondas minhas
Ondas desertas de espuma
Sem saber a sal ou mares
Sem praias para morrer
Sem areias para lavar os rastros.
Sem litoral, erram neste mar que mar não é
Saem de mim, fogem de mim, vou sempre com elas
Nelas me perco na rede de suas marés
De solidões povoadas, escolhos, naufrágos e míticas sereias.
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Pois são assim, essas ondas minhas.

Bar do Frango, 07 de fevereiro de 2007
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Postado no dia 03 de abril de 2007

4 comentários:

Zédu disse...

Pois é, o blog persiste como uma memória que não me abandona. Não sei encerrá-lo, nem sei fazê-lo novo em meus dizeres.
Mas a memória persiste. E talvez só eu saiba como esses dois anos, entre a postagem original e a de agora, se derreteram de maneira a fazer o dito antigo uma outra coisa.
Quando postei originalmente brincava com as ondas internéticas, essa prisão que as coisas na Web acaba nos confinando, uma certa urgência de real versus virtual, uma ilusão tola de que a realidade possa ser mais do que aquela que construímos.
O poema volta, persistente e outro.
Fruto, talvez, e quase com certeza, da atual secura poética que me derrete em desejos de poemas que não se escrevem.

Anônimo disse...

E se você diz de secura poética que te derrete em desejos de poemas que não se escrevem...a secura se vai e pura poesia jorra para quem for de ver e sentir o que se diz por aqui.

É muito bom passar por aqui, ainda mais quando escuto Lokua Kansa...cantando a tés Cotés.

beijinho meu amigo querido.

Meire

Tita disse...

É lindo este poema. Daqueles que engasgam.

Anônimo disse...
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