quinta-feira, 5 de julho de 2007

A pré-versão de Narciso

Se posso dizer, quase feliz!
E o quase é o preço pago
para manter quieta a cicatriz
que me define
Narciso entre dois lagos.
.
De um lago a outro,
de imagem a reflexo,
a forma, e o vulto
que me oprime
sujeito de meu próprio sexo.
.
Mas, insisto, repito, e digo
o dito que nunca ousei ou quis:
Pois é, meu caro amigo,
por mais que refine,
mesmo assim, quase feliz.
.
Eu sei. É mais uma vez,
e é por um triz.

Um comentário:

Inês Queiroz disse...

O quase é o reverso do absoluto. É meio-termo. É algo assim como querer e não ter, pagar e não levar. É um sim e um não. É um impeditivo para sermos ou termos alguma coisa por completo.

O quase é tal e qual uma pedra no caminho, assim com a pedra de Drummond: "no meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho."

O quase é sinônimo de nada porque quem quase faz ou sente alguma coisa não faz ou sente coisa alguma.

Portanto, meu querido e amado Zé, sinta-se inteiramente feliz, porque feliz você está.

Beijos plenos,

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um dia ele me mandou esta música:

Meio-termo
[Lourenço Baeta/Cacaso]

Ah! como eu tenho me enganado
como tenho me matado
por ter demais confiado
nas evidências do amor
como tenho andado certo
como tenho andado errado
por seu carinho inseguro
por meu caminho deserto
como tenho me encontrado
como tenho descoberto
a sombra leve da morte
passando sempre por perto
o sentimento mais breve
rola no ar e descreve a eterna cicatriz
mais uma vez,
mais de uma vez,
quase que fui feliz.
A barra do amor é que ele meio ermo
A barra da morte é que ela não tem meio-termo.