
Miró
Mascarado
jamais pronto,
de cara pálida
ainda assim tonto,
eu invento sinais
de fumaça,
de fogo,
de linhas desconexas.
Ouso escritos,
traços,
troços, 
trecos,
letras e coisas,
sexo, nexo e plexo.
Alardeio o perigo,
aponto o fogo,
o lobo,
o bobo.
Apronto, de saída,
a janela
indiscreta 
que resta 
aberta
na fresta
da festa 
à beira mar.
Namoro a morte,
a morta, 
a santa
e a porca miséria.
Sou quilha,
proa,
popa,
cordame e velas.
Encalho aflito,
grito,
choro,
me agarro os pelos
por detrás da porta
onde jaz, 
trancada,
a morta.
Sou pai, sou mãe,
sou filho e filha.
Sou tantos 
e outros tantos
que também são.
Sou o espírito santo,
meu nome é multidão.
Homem,
suposto alado,
sou o que não é, 
sou sem mulher,
uma ilha 
cercada de gentes 
por todos 
os outros lados.
Sou samba, rock,
jazz e bossa,
sinfonia,
quarteto, noneto,
samba canção e fossa.
Sou tango,
bolero,
meu própio fado,
cheio de lero-lero.
Marcho e me acho,
apago o facho
e, como caranguejo,
ando de lado 
e busco desejo
que da morte
já estou farto.
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