Música: Jards Macalé Coração do Brasil
dou o mês por passado
e o ano começando a acabar.
A Insignificância do Real tem remédio ou o que não tem remédio remendado está?
Mulher com uma flor, Picasso


Te pinto
momentos antes deste episódio (clique para ampliá-la)
El poeta Ángel González ha fallecido esta noche a la edad de 82 años en una clínica de Madrid, según fuentes próximas al literato. González, nacido en Oviedo en septiembre de 1925, era uno de los grandes vates españoles del siglo XX. Ha sido merecedor de premios como el Príncipe de Asturias de las Letras y el Reina Sofía de Poesía Hispanoamericana. Además era miembro de la Real Academia Española. Su cuerpo será incinerado mañana en el cementerio de San Isidro. Sus cenizas serán trasladadas a Oviedo. (12/01/2008)

E lá vou eu, depois de ter feito que devia fazer (Orestes, matou mamãe, pela Lei dos Homens, conforme lhe exigiu Apolo, lembram-se?). Tolamente contente por haver seguido a Lei, tolamente inocente de que a vida é mais complexa do que parece.
No ano de 2008 prometo:
Y construí tu rostro.

O Eremita é um dos Arcanos Maiores, cartas mais fortes, mais significativas mas, ao mesmo tempo, sempre ambíguas na duplicidade de suas possíveis significações. Diferente dos arcanos menores, sempre ligados ao naipe de onde são parte de uma viagem, um Arcano Maior se encerra nele mesmo, ou se assim quisermos, é uma etapa marcante na viajem do Tolo (primeiro dos Arcanos Maiores) da caverna donde emrge Tolo ao Mundo em seu esplendor (último dos Arcanos Maiores). Cada um deles é uma marca nesse caminho, uma encruzilhada que desafia o Tolo em nós na sua busca de sabedoria e integração com a Coisa.

ESTRELA

O ano passou. Não sei se vós, leitor amigo, ou vós, distinta leitora, o passastes bem. Eu, como já passei muitos, os tenho passado de todo jeito, e ainda hoje esse segundo que vem depois da meia-noite me perturba.
Já passei ano só, em terra estranha, ou – o que é mais amargo – na minha; ou andando como um tonto na rua ou afundado num canto de bar ruidoso; ou tentando inutilmente telefonar; dormindo; com dor de dente. E quando digo de todo jeito estou dizendo também de jeito feliz, entre gente irmã ou nos braços de algum amor eterno – braços que depois dobraram a esquina do mês e da vida, e se foram, oh! provavelmente sem sequer a mais leve mágoa nos cotovelos, apenas indo para outros braços.
Passam os anos, passam os braços; mas fica sempre, quando a terra dá outra volta em si mesma, essa emoção confusa de um instante. Conheço pessoas que fogem a esse segundo de consciência cósmica, afetando indiferença, indo dormir cedo – como se não estivessem interessadas em saber se esta piorra velha deste planeta resolveu continuar girando ou não. É singular que entre tantas festas religiosas e cívicas nenhuma chegue a ser tão emocionante e perturbe tanto a humanidade como esta, que é a Festa do Tempo. É como se todos estivéssemos fazendo anos juntos; é o Aniversário da Terra.
Se a alma estremece diante do Destino, o espírito se confunde; reina uma tendência à filosofia barata; vejam como eu começo a escrever algumas palavras com maiúsculas, eu que levo o ano inteiro proseando em tom menor, e mesmo o nome de Deus só escrevo assim para não aborrecer os outros, ou para que eles não me aborreçam..
Já ao nome do diabo, não; a esse sempre dei, e dou, o 'd' pequeno, que outra coisa não merece a sua danação. A ele encomendamos o ano que passou - e a Deus, o Novo. Que vá com maiúscula também esse Novo; fica mais bonito, e levanta nosso moral.
E se entre meus leitores há alguma pessoa que na passagem do ano teve apenas um amargo encontro consigo mesmo, e viveu esse instante na solidão, na tristeza, na desesperança, no sofrimento, ou apenas no odioso tédio, que a esse alguém me seja permitido dizer: "Vinde. Vamos tocar janeiro, vamos por fevereiro e março e abril e maio, e tudo que vier; durante o ano a gente o esquece, e se esquece; é menos mal. E às vezes, ao dobrar uma semana ou quinzena, ás vezes dá uma aragem. Dá, sim; dá, e com sombra e água fresca. E quem vo-lo diz é quem já pegou muito sol nos desertos e muito mormaço nas charnecas da existência. Coragem, a Terra está rodando; vosso mal terá cura. E se não tiver, refleti que no fim todos passam e tudo passa; o fim é um grande sossego e um imenso perdão.
Rio, janeiro de 1952
Rubem Braga
Mais uma coisa roubada das mensagens que recebo. Recebido da Nina, que recebeu de alguém, que recebeu de.... Essas coisas são passarinhos que quando pousam em nossas máquinas temos que fotografá-los no álbum de nossos belezuras e, em seguida, deixá-las voar novamente. Colocada agora na data coerente com o dizer do texto, são esses nossos votos, meus e do Pipoca, para todos que têm caminhado comigo por aqui. E fiquem atentos; mesmo nesse tantinho de acabar de chegar, 2008 já começa a ir embora. Façam dele bom proveito!