...
Magoa-me a saudade
do tempo em que te habitava
como o sal ocupa o mar
como a luz recolhendo-se
nas pupilas desatentas
Seja eu de novo a tua sombra, teu desejo,
tua noite sem remédio
tua virtude, tua carência
eu
que longe de ti sou fraco
eu
que já fui água, seiva vegetal
sou agora gota trémula, raiz exposta
Traz
de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vadia
mergulha os teus dedos
no feitiço do meu peito
e espanta na gruta funda de mim
os animais que atormentam o meu sono.
Mia Couto / Magoa-me
em Raiz de Orvalho e Outros Poemas
De Ayan
em Raiz de Orvalho e Outros Poemas
De Ayan
Um comentário:
Traz de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vadia
mergulha os teus dedos no feitiço do meu peito.
Quem sabe assim possamos erguer uma outra história
sobre as ruinas dos meses que os nossos novembros desconhecem?
Beijos meus,
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