Dela tomei o gesto e o gosto torpe,
a tempestade e o sangue,
o grito surdo, a palavra muda,
o terror e o vulcão voraz
a infinita surpresa atônita
Nela, sorri felina verdade,
amargo encontro desencontrado,
o olhar negado, o recolhido gesto,
um antes acabado
em sabor de resto
e o oferecido pulso, cicatrizado.
Dela tomei a seiva rubra
escorrida, coagulada
e o colar sem pérolas,
tatuagem riscada;
a corda, o quase, e o talvez falhado.
Inconfidência enforcada,
vergonha, nudez, nada.
Dela inventei um gosto
roto,
de boca não beijada,
de solitário arrepio de um abraço
nunca dado;
a dor, o amor e o fracassado
Nela, restei e vi
a desistência,
e desisti de repetir
o acordar maldito,
o terror não escrito,
os pontos cegos.
E aprendi estranho Isso
que nela ouvi.
E nela, fiz-me
novamente again
pela primeira vez.
Insistência atenta,
tateares tontos,
bêbados passos,
precários equilibrares,
equivocado no oco
louco
que nela vi.
Por ela um eu passou-me
e fez-se pra trás, distante
deste outro mesmo agora diferente,
que o, dela, instante,
equilibra abismos,
e vive muito bem
dela pra frente.
Dela, guardo meu presente
e sou, eternamente,
do gesto heróico,
bardo redundante.
Por ela, sigo adiante.
E ela nela restou.
E dela só ela sabe o sabor
desta história dela
que em nós queimou.
Nela, aposto um risco
que, valendo-me a pena
será, dela, nosso petisco.
E, por ela, me arrisco!
Um dia qualquer do último setembro do último ano do século passado
Postado no final de fevereiro de 2007
Postado no final de fevereiro de 2007
2 comentários:
Esse poema me é caro por várias razões. Primeiro, gosto dele. Ele foi, nja realidade, o primeirop poema que psicografei, i.e., que jorrou de mim sem pausas, numa madrugada em que o sono não vinha, lá por setembro de 200o.
Segundo, o jorro poético na realidade dizia de um algo mais importante. Tendo sido motivado por um incidente trágico, quase fatal, foi a partir dele que resolvi não morrer e retomar minha vida e, novamente, ousar sonhar futuros que eu deveria construir. Como nomei no post original, foi o dia que resolvi não morrer.
Alguns poucos meses depois do poema eu estava de volta ao Rio, às pessoas, aos amores, à minha vida e ao meu futuro que, ainda que capenga, continuo a construir.
Esse poema me é caro por uma só razão. Sem o que fez dele uma sentença de vida e sem o que nele se definiu, não teria havido para mim os Rio's da tua volta.
Beijo,
Inês
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