Análise
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
Tão abstrata é a idéia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a idéia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.
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12-1911
Poema de 1911, quando o poeta tinha 23 anos, mas já era Fernando Pessoa
Poema de 1911, quando o poeta tinha 23 anos, mas já era Fernando Pessoa
4 comentários:
Por razões que nem mesmo eu sei contar, ainda, ando me repetindo no blog. Nos dias de hoje, mais passeio por ele do com ele, e, por isso, colho no seu passado coisas que recoloco por aqui, com a desculpa dos novos leitores, da preguiça destes em gastar tempo experimentando as tantas postagens já publicadas. E não os culpo, visto o blog ter quase que o mesmo número de coisas interessantes quanto de bobagens que só faziam sentido no momento que em ousei publicá-las.
Mas, nesse comer de meu próprio rabo, coisa nem sempre ruim, como nos mostra a carta O Mundo lá no Tarot, último dos grandes arcanos, final de uma jornada que sempre recomeça, nunca em repetição, acabo, por razões maiores que meu enorme, e confessado, narcisismo, só recolocando coisas minhas, poemas de minhas próprias penas.
Mas um comentário no post anterior me lembrou de poetas de verdade, com quem a gentileza da comentarista ousou me misturar, todos eles aqui já postados e, mais do eu, merecedores de serem aqui relembrados. E apesar dela se referir especificamente aos poetas brasileiros, prefiro pensar que, sendo a língua uma só, todos que fazem poesia em português se unem no principal, para além das geografias natais.
Além disso, esse poema em particular é, e sempre será, um de meus preferidos na obra do Fernando de tantas sombras. E sempre diz, em meu nome, coisas que eu gostaria de dizer, de uma maneira muito mais bela do que, sei, jamais conseguiria.
Então, com Pessoa, me digo para uma outra pessoa que saberá muito bem que é com ela que estou falando.
É maduro o nosso amor, não moderno
Fruto de alegria e dor, céu, inferno
Tão vivido o nosso amor, convivência
De felicidade e paciência.
Um beijo da pessoa que sabe muito bem
que é com ela que você falando.
Fruta boa,
Zédu,
ESCREVE!!!!!!!!!!!!!!
Tita
Zédu, amo teus poemas, são lindos e são bem singular.
E quanto a esse do Pessoa (que sou suspeita para falar porque amo ele e todos os seus pseudônimos), particularmente em "só por ter-me consciente de ti, nem a mim sinto." para mim significa muita coisa.
Grande abraço.
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