terça-feira, 6 de maio de 2008

O outro mesmo olhar disse...


Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.

Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E o sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.


Alberto Caeiro / Poemas Inconjuntos

3 comentários:

  1. "E o sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
    Que nunca é o que se vê quando se abre a janela."

    Tentando ser pela vida pelo menos um tanto assim, é que dou conta da grande beleza deste post. Há na imagem e no poema uma advertência entrecruzada e fundamentalmente metafórica que nos convoca ao abrir-se ao que seja.

    Um beijo

    Meire

    ResponderExcluir
  2. Ao abrirmos as janelas sempre haverá a chance de vislumbrarmos algo melhor do que esperamos, embora nem sempre igual ao que sonhamos.
    Dar sentido e beleza ao que se vê depende do olhar de cada um. O próprio A.C. escreveu que as coisas não tem significação: têm existência. As coisas são o único sentido oculto das coisas.
    Lais

    ResponderExcluir
  3. "As coisas são o único sentido oculto das coisas". Lacan não teria dito melhor.
    Adorando a Lais, minha já nova velha colaboradora.
    Um beijo, seja vocêr quem for.
    Volte sempre!

    ResponderExcluir

Comentários anônimos, isto é, sem nenhum tipo de assinatura ao final, não serão aceitos. Invente seu nome se quiser postar um comentário.