segunda-feira, 3 de março de 2008

Cem palavras


Van Gogh
As palavras têm se calado
na nudez das paredes,
nas juras desprometidas,
nas amantes não mais havidas,
nos furos de minhas redes,
nos sonhos desacordados.
.
As palavras restam encolhidas
no oco de minhas beiras,
nas esperas não chegadas,
nas viagens naufragadas,
nas entradas sem bandeiras,
nas letras mal resolvidas.
.
As palavras se acabaram
nos corpos já carcomidos,
na esperança que desaponta,
nas buscas, cada vez mais tontas,
nos restos do eu dormido,
nas achas que não se queimaram.
.
As palavras, desnomeadas,
já não multiplicam sentidos.
São letras em redemoinho,
vagos lumes, burburinho,
solidão, falta de abrigo,
síncope, fim da jornada.
.
Ao final das contas
.
Com as palavras nasci
e, delas, hei de morrer.
Com elas fiz mil distâncias,
por elas, tolas errâncias.
Mas a conta de meu dever,
a-pago no que escrevi.

5 comentários:

  1. Quem quiser contar que conte outra.

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  2. Há muitas, estórias e histórias sem fim,
    De um fim sempre anunciado,
    de um anúncio jamais enfim.

    Prá dizer que desse tempo,
    solitário e pouco solidário,
    nasceu o poeta que germinava.

    Nina

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  3. Do "cem palavras" que dizer senão que eu sim me vejo sem mais palavras, mesmo porque palavras para que se adorei te ler neste poema ?

    bj

    Meire

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  4. Não é à toa que o visitante 2000 está chegando. Certíssimo comentário da Nina.
    Leila

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  5. Elas voltam.
    Quando o poeta tem alma.
    Elas sempre voltam.

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