quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

São Sebastião do Rio de Janeiro

Te pinto
por detrás da porta
perdida.
E o que pressinto
de mim,
te corta.
Já não sinto
que te presto
quando não minto.
E às janelas fecho,
para que não entre,
não me penetre,
nem mais um inseto
e, para sempre,
jamais
a flecha
torta
que te faz,
como no verso,
morta.


Um comentário:

  1. Vinda ao mundo no dia da morte de São Sebastião, escapei segundo muitos de ser Sebastiana, Tiana ou Sebá, ou até de outros codinomes menos desafinados comigo. Que me perdoe especialmente Ele o meu protetor. Andei buscando quem falasse dele de um outro modo e gostei do achado que amplia o meu comentário com toda a intensidade do poema que deixo aqui:

    Lascívia

    Quem ele pensa que é?
    Redentor de mágoas
    Feitor de milagres
    Criador de destinos?
    Será que se acha Deus para me reinventar humano
    encharcar minha pele de febres
    abençoar meu gozo com estrelas
    e me fazer perder o chão e o bom senso ao reconhecê-lo Deus?
    O que quer este Deus de barro
    em seu andor de luzes frescas
    procissão secreta pelas ruas da cidade a levar meus olhos para o porão do mais profundo desejo?
    Vai ver é Deus ao avesso
    que nem se preocupa em cuidar desta alma
    a pressentir cheiros devastadores
    a confessar crimes não cometidos
    a correr perigos desnecessários
    alma que é capaz de mentir por um gemido banal.
    Não, não pode ser o Deus
    que mora nas bíblias torás corões evangelhos,
    nos rituais sacrifícios salmos presságios
    não o Deus que aprendi a amar e a temer sobre todas as coisas.
    Não, possui pêlos e instintos selvagens
    sorri como uma tarde quente da adolescência
    é meio leopardo meio potro
    índio demais para ser o todo poderoso.
    É Deus nada, mas tudo pode
    sorvete no frio missa sem altar carnaval em abril
    até inibir velhinhas com carinhos obscenos em mim.
    É Deus sim, se fosse apenas um homem
    não lembraria tantos atalhos em meu corpo
    ao menos esqueceria datas
    nem se importaria em meu prazer ser sempre sagrado.
    E o que fazer com este Deus de flor
    tesa aberta primaveril rosa cravo peninsular
    a me invadir de breves mares a cada beijo?
    Pelo sim, pelo não, Deus
    balbuciado na oração do santo do dia
    para que Deus o conserve Deus
    nestas intermináveis horas de lascívia.

    Jacinto Fábio Corrêa é poeta do Rio de Janeiro, nascido em 1960. Sua primeira publicação foi o livro de poemas "Entre Dois Invernos", em 1989. (...) jornalista, publicitário, já lançou outros 9 livros, incluíndo a dobradinha "Poemas Simples/Poemas Caseiros". São Sebastião atravessa seu livro poemas simples como inspiração.

    Bj/Meire

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