quinta-feira, 30 de agosto de 2007

O farol dos olhos teus



Na ilha onde me habito,
frequentam as gaivotas.
E trazem, presas aos bicos,
ao invés de folhas de louro,
mensagens, pequenas notas,
preciosos grãos de ouro.

Notícias do mar além,
onde em terras distantes
residem meus todos bens.
Bússolas de norte constante,
consolos deste ser errante,
avalistas de meu ser alguém.

E, nestes esperados instantes,
que me trazem as gaivotas,
ouço músicas, nunca o bastante,
fugas, prelúdios, gavotas,
doçuras para meus ouvidos,
alívio para um meu castigo.

Que aqui naufraguei por besteira,
pensando em uma vida nova.
Mas sem um meu sexta-feira,
escrevo essas poucas notas,
pobres versos em tom de trova,
que devolvo às gaivotas.

E assim, do Frango à Praça,
vou habitando esta ilha,
errando pelo rés da praia,
prisioneiro, meio sem graça,
desta imaginária Tordesilhas,
aguardando que o dia raia.

No movimento dos barcos,
da janela de meu quarto,
espio por detrás da porta,
ali onde Inês era morta,
onde sonho novo momento,
eu, ela, e todo o sentimento.

Invento um cais,
e quero mais.

3 comentários:

  1. "O mundo fica irreal, mas não me importo"

    ResponderExcluir
  2. As gaivotas da ilha onde você habita, veja só que danadinhas, cruzam as montanhas nesse mesmo céu que nos cobre, e também me trazem "mensagens, pequenas notas, preciosos grãos de ouro".
    Me basta ouvir o som de quem parece que carrega o amor no bico, e o meu coração transborda em festa.
    Beijos,
    --------
    a gaivota
    desenha no meio
    do horizonte
    o til do não

    no sim das montanhas
    dormem os pontos
    de interrogação

    Nel Meirelles

    ResponderExcluir
  3. Caramba, isso é lindo!

    Bj.
    Neuza.

    ResponderExcluir

Comentários anônimos, isto é, sem nenhum tipo de assinatura ao final, não serão aceitos. Invente seu nome se quiser postar um comentário.